Crise hídrica no estado do Paraná: seria essa a pior seca da história?

Crise hídrica no estado do Paraná: seria essa a pior seca da história?

Entenda como a falta de chuvas tem afetado a população e quais as medidas adotadas na tentativa de minimizar o problema.

Aumento do consumo, uso inadequado do recurso, diminuição do nível de chuvas e mau uso do solo no entorno dos mananciais de abastecimento. Todos esses pontos estão diretamente ligados à falta de água nas diversas regiões do Brasil e, dependendo da situação, podem desencadear em problemas mais graves, como é o caso das crises hídricas, por exemplo.

Uma vez que isso acontece, ficamos diante da seguinte questão: a quantidade de água disponível nos reservatórios não é suficiente para atender as necessidades da população e, a partir disso, algumas medidas começam a ser colocadas em prática na tentativa de amenizar os impactos.
Essa é a realidade que temos acompanhado diariamente aqui no estado do Paraná e que, infelizmente, tem sido um dos piores momentos da história. Pensando nisso, preparamos esse conteúdo com algumas informações relevantes para que você fique por dentro do assunto e entenda o que de fato está acontecendo ao nosso redor. Vamos lá?

Quando a crise hídrica do Paraná teve início?

O assunto começou a ganhar visibilidade ao longo dos últimos anos. Vale destacar que desde julho de 2019, Curitiba vem atravessando uma seca histórica, já que a frequência das chuvas não tem sido favorável na região. E acredite: para muitos especialistas esse pode ser considerado o pior cenário em mais de 100 anos.

Para que você tenha uma noção mais clara do que estamos querendo dizer, vamos a alguns números:
De acordo com registros obtidos ao longo dos anos, a média anual de chuvas na capital paranaense gira em torno de 1452,5 milímetros (cálculo baseado entre 1921 e 2019). Pelo que se tem conhecimento, até hoje o ano de 1957 é eleito o mais chuvoso (2,165,2mm) e 1985 o mais seco, com 756,6mm.

Em 2020, o acúmulo anual foi de 1049mm, contrariando o esperado, que seria 1424mm. Importante mencionar ainda que, durante esse ano, apenas junho, agosto, novembro e dezembro, tiveram um volume de chuva visto como “normal”, ou seja, todos os demais apresentaram números bem reduzidos. Segundo dados divulgados pela Simepar (Sistema de Tecnologia e Monitoramento Ambiental do Paraná), isso fez com que a cidade ficasse a 26,33% abaixo da média histórica para o município.

Contudo, as chuvas que caíram nos dois últimos meses de 2020 foram fundamentais para a recuperação (parcial) do nível do Sistema de Abastecimento de Água Integrado de Curitiba (SAIC), permitindo um percentual de 40,95% para os reservatórios, o que de certa forma foi um “alívio” durante o período.

Mas, no começo desse ano, a situação voltou a ficar preocupante. Sem sinais significativos de mudança e com a permanência da estiagem, o governo do Paraná decretou situação de emergência hídrica no estado, estipulando rodízios para o fornecimento de água à população.
Inclusive, no início desse mês, o Simepar anunciou ainda que dos quatro mananciais usados para a captação de água, três estão com índices abaixo do normal e 31,75% se encontram em situação de estiagem. Além disso, a Sanepar (Companhia de Saneamento do Paraná), também informou que, atualmente, o nível dos reservatórios é de 48,88%.

Quais as medidas adotadas pela Sanepar na tentativa de minimizar a crise?

Chuva Induzida

Apesar do nome correto ser “Semeadura de nuvens”, simplificamos dessa maneira para que a compreensão fique mais fácil. Afinal, esse projeto de pesquisa, no qual a Sanepar tem investido alguns milhões, consiste basicamente na identificação de nuvens (próximas às barragens) com potencial de precipitação, ou seja, que possuem capacidade maior de formar uma boa quantidade de chuva.

A partir do momento em que são identificadas, gotículas minúsculas inseridas nas asas do avião são injetadas no interior de cada uma delas, fazendo com que estas se juntem à água já presente nas nuvens. Por fim, caso a combinação dê certo, gotas maiores são formadas e, devido ao peso, caem em forma de chuva.

Corredor Ecológico

Esse plano da Sanepar, feito em parceria com a Coordenação da Região Metropolitana, órgão responsável pelo gerenciamento de projetos em Curitiba, tem como intuito a criação de um corredor de 97km para reforçar o abastecimento de água na capital do estado, bem como na região metropolitana. A obra será feita no entorno do Rio Iguaçu e terá grande capacidade de armazenamento (torno de 116 bilhões de litros de água). Além disso, será uma aliada para a prevenção de inundações em áreas urbanas.

Construção de Reservatórios

Com previsão de conclusão para maio de 2022, quatro reservatórios já começaram a ganhar forma em Curitiba e serão interligados a novas redes de distribuição. Dois deles, localizados nos bairros Sítio Cercado e Santa Quitéria, suportarão cerca de 10 milhões de litros de água cada. Os outros dois, localizados na Lamenha Pequena e no Butiatuvinha, terão capacidade de 3 e 2,2 milhões, respectivamente.

Captação Alternativa

Rios, cavas, lagos… diante dos efeitos da estiagem, todos esses recursos têm sido utilizados como fontes alternativas para a captação de água. Junto a isso, transposições de rios, como Pequeno para Miringuava e Capivari para Barragem do Iraí, também já foram feitas para aliviar os efeitos da situação, além ainda da captação pela barragem do Rio Verde (acordo feito com a Petrobras).

Barragem do Miringuava

As obras da barragem do Miringuava continuam em execução, e esse certamente é um dos principais projetos para aumentar a capacidade de armazenamento de água na região. Iniciada no ano de 2015, mas interrompida devido a algumas irregularidades, teve os trabalhos retomados em 2020 e conseguirá suportar 38 bilhões de litros de água, beneficiando aproximadamente 650 mil pessoas.

Sistema de Rodízio

Desde março de 2020, essa tem sido a solução adotada nos momentos mais alarmantes e é o sistema atual em que o estado se encontra: até um dia e meio sem água (prazo de 24 horas sem e 12 horas para recuperação) e um dia e meio com água (36 horas). Para assegurar níveis mínimos de reserva e garantir um abastecimento regular à população, estima-se que esse método permanecerá até o fim do ano.

A partir desse contexto, há algo que fica bem claro: é preciso pensar, o mais rápido possível, em um planejamento, bem como em uma gestão de recursos hídricos e proteção das matas ciliares, para evitar que situações como essas continuem acontecendo no país. Ao contrário do que é feito atualmente, onde a gestão de crise é apenas esporádica, feita no momento de maior vulnerabilidade, são as ações de prevenção que devem ser colocadas em prática. Afinal, como podemos observar, fases como essa afetam os mais diversos setores da sociedade.

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